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sexta-feira, 26 de junho de 2009

Outras palavras

Chamava-lhe krida ou amore, saíam-lhe assim sem ser por mal, mas também sem ser por bem, eram desta maneira a forma de lhe substituír o nome que já esquecera pois quando pensava nela ou tinha de a chamar o automático ligava-se e disparava as duas palavras comidas ou acrescentadas, um caldo de dias refrigerado ou de água somado para tapar o buraco. Ela respondía, era para ela, era o que ele lhe baptizara no inicio de juntos e assim ficara porque há coisas que não se percebem mas também não se questionam e no final de tanto tempo aqueles carinhos davam sainete para fora que os elogiavam como casal tão chegado. Na troca do krido ela dava-lhe o filhu e aperfilhara de bom costume o amore para tudo servindo, fosse para chamar para o almoço fosse para o gozo de cama.


A verdade, é que essas duas palavras eram das poucas que oferecíam. Ou pouco mais. Complementavam-se na acção com o apontar do dedo, o aceno de cabeça e mais um termo que servía para designação geral: o coiso.


Levaram a vida na dimensão vocabular da sua felicidade. Nunca questionaram o uso de outras palavras ou o jogo mágico do alfabeto, era tudo uma questão de amore. Coisas do pequeno mundo do coiso.

2 comentários:

tiaselma.com disse...

Justamente (ou folgadamente) era no coiso que repousava toda a semântica daquela vida. Tantos significados que nos escapam, não?

Delícia de post!

Beijocas e bom fim de semana.

Gasolina disse...

Selma,

Pois é...

O tamanho do mundo é muito relativo e há várias medidas consoante quem neles vive.

Vá lá saber-se porque se diz que a lingua portuguesa é traiçoeira... :~D


Beijo para esse lado, bom fim de semana