Todos os textos são originais e propriedade exclusiva do autor, Gasolina (C.G.) in Árvore das Palavras. Não são permitidas cópias ou transcrições no todo ou/e em partes do seu conteúdo ou outras menções sem expressa autorização do proprietário.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

(do culto) Da boa vontade

É por estas alturas que tenho desejos estranhos. Não de comeres ou beberes, veneta de mulher prenhe ou vontade do condenado. Mas aspiro a ser árvore sem palavras - pelo menos as minhas- toda enfeitada de bolas brilhantes e fios coloridos que faíscam às luzes intermitentes que habitualmente se fundem ao cabo de dez utilizações. Gostava de ser pinheiro, vulgo árvore de Natal. Concentrar-me em ter os braços abertos e suportar o peso leve dos penduricalhos. Aguentar-me. Sem som. Ou apenas o roçar das agulhas secas a chorarem no soalho.


Aguentar tudo, as noites de festa, a amizade da época, os votos embrulhados no papéis dos presentes que vão directo para o lixo após a desilusão de um novo par de meias quentinhas e tão semelhantes às do Natal passado.


Aguentaría também as reuniões com todos aqueles que mal suportamos ao longo do ano e que alegremente ombreamos no jantar da empresa. Com garbo. Mesmo que o conviva que nos calhou de frente seja o nosso superior e lamba o gume da faca.


Aguentaría os cartões, os amigos secretos, as mensagens de telemóvel, a repetição dos mails passados e repassados, as fotografias de grupo, os carapuços vermelhos que causam alergia e até mesmo as hastes de rena que destroiem o penteado que nos prendeu por mais de duas horas no cabeleireiro.


Ser árvore de Natal é ser maior. É ter a boa vontade de ouvir, ver e calar. Que de todas as boas-vontades não encontro paralelo nesta estoica tarefa a que assiste no desfilar de um corredor de hipocrisias, disfarces, mentiras e transformações. Haja vontade para se dizer bem, para se dizer mal quando se é e quando está.


Eu disse que tinha desejos estranhos. Gostava de ter palavras à séria, sem cartões com música ou bonecos que saltam. Só palavras a dizer o quanto se gosta de alguém. Acho lindo presentes feitos de palavras, enfeites feitos de palavras de boa vontade.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

10 de Dezembro

Dizem-me que hoje é dia do meu aniversário mas eu não estou tão certa disso, os outros de mim nasceram em dias diferentes, luas em crescentes aversos e mesmo assim verdadeiros no absoluto de se agarrarem a este mesmo dia de parto como se único lhes pertencesse.
Depois, há aquela de mim que não das letras se tropeça em pés de dança, ouvida, repetida, transmitida em horas de riso e horas de choro, tantas dores, repercutem-se nos que ensinam outras manobras, novas por renovadas e soletram para dentro o meu nome recordando o pormenor que torna genuíno o não sei quê da diferença.
Também a que alquímica mistura sabores e pimentas, odores e transfusões de paladar, ouro nascido em aluminios, barros, amanteigados na memória dos ensinamentos de livros velhos, de autor, de pai.
Ainda e sempre a das obras, a da inconstância dos espaços e dos cantos, recantos que enxota na mudança de olhares que procuram mares, rios, arco-iris de cores mais-sete, telas, paredes ou nada, pinta-se tudo à vontade do vento, procura, sempre, sempre, ando sempre à procura.
Por isso o dia é de festejo a outros, não a mim escravo de sonhos.

domingo, 15 de novembro de 2009

Dói-me a vida.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Desligo a luz

Fumo a última noite no gosto acre esperançoso de que este sabor me lembre outros hálitos, outras dores, qualquer coisa que me copie a atenção para uma janela que não seja fechada, o vidro transparente a enganar o cerrado, o estilhaço no focinho sedento de um sangue menos vermelho, menos quente, menos eu.


Quero ter sono e dormir. Quero ter sono e sonhar. Quero ser banal e sonhar com flores, com amores, com risos e algodão, doce, doce, doce... Na verdade não tenho sonos, nem sonhos, nem vontade de fechar os olhos e parar as mãos, nem quero ser banal nem quero sonhar, só quero gritar e rasgar a dor que já me rasgou.


Amarelecem-me as memórias em notas de música que amachuco negras no cinzeiro cheio.


É tarde, é cedo, é o último desejo do condenado.


Desligo a luz, boa noite aos que vieram.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Dois anos e um dia

Não fugi, não esqueci, tão pouco desisti. Tenho-me amontoado nas folhas caídas, a tendência dramática do Outono a exigir o seu pedaço de terra, ou direi palco, ou direi páginas em branco a clamarem o fecundo da tinta a penetrar-lhes o que sempre soube, o que me é nascido, o que é prazeiroso (outra vez) sentir quando pelas madrugadas agora frias as mãos se aquecem no deslizar do pensamento, ou direi sentir, ou direi recordar, ou direi inventar outras sonoridades para o que leio escrito em anos que passaram sem contar que um dia essas mesmas folhas me haveríam de aquecer renovada, quase infantilmente encantada por as ter sido autora um dia.
A árvore está de pé.

sábado, 5 de setembro de 2009

Tempestade(S)

Por estas alturas lembrava-se sempre de tempestades, daquelas ruidosas, estaladas, que se sentem na distância o cheiro de enxofre pelo embate das nuvens, era assim que tinha aprendido, depois deixar o nariz levar-se guiar até sentir a primeira gota, a seguir a correría para escapar do molhado.


Nunca vira uma tempestade. Só as sabía pelos livros. As que mais gostava eram as de mar em que barcos escuros eram empinados em coroas brancas por águas que se levantavam em forma de C grande.


Tudo o que havía a saber sobre tempestades sabía-o e tão pouco interessava que as maiores fossem as de dentro de si ou as da palma da mão a molhar-se nas gravuras ou ainda as que nunca tendo assistido escutava distintamente o seu aproximar.


Já não corría pelo que nunca tinha visto. Para quê se podía fazer uso das pernas para nadar no revolto da água salgada ou enraizar-se como uma árvore à espera de seiva para saber-se viva. Era só querer.











Obrigado a tantos que aqui vieram.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Tejo (O Regresso)

De novo ele e eu, confronta-me chumbo não sei se dos humores do céu se hoje lhe deu para me mostrar a sua força e a saudade era tanta que eu dou permissão para a canalhice fadista tomar prumo e uso-o como tala para me endireitar.
Sou eu sim, lá porque disse que não te escrevía mais não quer dizer que a água secou na saliva com que te penso e monopolizo na distância de duas margens que do outro lado também és meu tão mais do que a boca te fala.
És tu sim, sempre foste perdição das minhas linhas e o fim é um número feito de três letras que se deixa sentir ter importância mas não vale nada se ao bastante para se viver se doa o respirar.
De novo nós, Rio, tão novo como da última vez.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Evasões

[ Agora não estavas cá...]
Recostada ou hirta na parede por construír deixo chegarem as balas que trazem o meu destino, se quiser agarro-as à mão, pulverizo-as na chave fechada do punho, antes as quero onde só eu as vejo [estás a pensar em quê?], basta que estique o braço e alongue a vontade no vão dos espaços que mais ninguém vê, ensurdece-me o silvo [estás a ouvir? estás onde, que não me ouves?], esqueço-o em chilreios das madrugadas quando as aves são felizes ao morder os lábios e do gosto do sangue ganho a dor necessária para a abstracção do concreto [que tens?], este é todo o meu lado perfurado de claridades que me cegam e alumiam, um dia caio de vez, as balas hão-de chegar sózinhas e eu rio [estou aqui] porque nesse dia desejo-as de metal [por vezes afastas-te e não sei onde estás].
Nem eu.

domingo, 19 de julho de 2009

(Re)encontrei(-me)

Corri. Muito, muito, tanto até deixar lá atrás a pele e os ossos, depois o invisivel das memórias dos cheiros e dos sons e dos olhares, deixei o espaço nas costas que já não eram dorso e desfiz-me em perguntas até sobrar terra.
Só depois me lembrei que era uma árvore e não podía fugir.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

AMO-TE NINA




(25-04-1988 / 10-07-2009)

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Cartas ao Mar

Não há crianças na minha rua. Não se vêem, não se ouvem, nem um lamento, um pedido insistente à mãe, o choro do castigo. Não há jogos desenhados na calçada nem uma bola esquecida à hora do lanche.
No prédio ouço passos que querem parecer ausentes, só a escada velha os trai, pequenos rangeres de degraus comidos pelo bicho da madeira e pelo tempo desgastado em manterem escondidos todos os habitantes.
Ouve-se o silêncio.
Respira-se o silêncio.
Perco-me no silêncio que me estala como as escadas. Talvez esteja só, a envelhecer como elas, como a parede de tijolos que avisto da pequena janela do saguão. Talvez já tenham existido crianças e cresceram e envelheceram desde que deixei o meu mar e agora ocupam-se como os outros moradores a permanecerem solitários nos seus gritos abafados de dor por terem perdido a meninice no tempo em que muda a maré.
Tão pouco a Lua tem força para se descobrir e alumiar caminhos, caras, tamanhos de gente grande e gente miúda que me faríam renascer a esperança, clarear este quarto velho de velhas passagens, tantas solidões parelha de mim.
Talvez tivessem largado o mar como eu, o veneno de se perder os olhos para além do que se vê e se cobiça como uma criança perante um doce.
Mar doce, mar doce...
Aqui não há crianças e há menos uma mulher.




(in Cartas ao mar - Agosto/2008)

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Do homem

Nas horas do homem o raciocinio lógico adopta-me. Penso que estarei na proporção da dor que me fazes sentir intimamente ligado ao valor da tua atenção.
Sentes prazer pois, em magoar-me, em saber que és a senhora da situação, controlas a minha vida, desdenhas da minha dependência. Eu sei-o, mas apenas nos momentos em que a besta dorme saciada do sangue que cheirou, encolhida a um canto à espera das tuas ordens, pronta para o ataque se assim te apetecer.
Nos momentos de homem rio-me desse animal, troço de mim, prometo-me dignidade e acho-me indiferente aos encantos da tua luz e dos teus aromas a rosas molhadas, espero o tempo a passar como ajuda para te esquecer e fazer valer o que sei não hei-de cumprir.
Tristemente lúcido.







(in Quarto do crescente, Junho/2008)

terça-feira, 7 de julho de 2009

Esboço(S)

Pela quarta vez disse-lhe, desta feita em braço regendo a ordem, os olhos abertos e as palavras articuladas no exagero, porém no tom baixo de quem se controla para não perder a compostura.

Retomou o lápis entre dedos e fixou o plano branco, é tudo um engodo, de nívea só os outros vêem e a ela só ele alcança por dentro as cores que misturou quando a viu pela primeira vez, o impacto da paleta contra o estomago, é sempre aí que sente, uma fome dolorosa e corrosiva misturada no ácido da imaginação.

Quando acabou o esboço ela tinha-se aborrecido. Queda. Ausente.

Ele chamou-a para ver, ela perguntou-lhe quem era.

Tu.

A incredibilidade. A duvida da loucura.

Sentou-se e compôs a posição que ele pedira, agora havería de manter-se imóvel para ele a desenhar como ela era.



(in Telas, C.G.-Set/2005)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Se eu mandasse

Se eu mandasse ordenava ao amor que se sentasse. Dizía-lhe para ficar quieto, calado, não tentando convencer-me das suas boas intenções e de como me faría feliz se eu lhe permitisse chegar perto e abraçarmo-nos.
Se eu mandasse ele obedecería.
E caso me tentasse enganar com os seus truques de magia eu havería de me transformar num casulo, toda envolta em fios de seda muito finos e resistentes, surda sem o poder escutar a chamar pelo meu nome.
Deixava-me ficar assim, protegida, incólume, até ele se quedar e se esquecer de mim.
Se eu mandasse, mandava-me esquecer desta falta que o amor me dá.




(in A dificil arte de não amar - Julho/2008)

domingo, 5 de julho de 2009

Distinção Julho 2009







Há blogs que pela sua qualidade me merecem destaque.

Seja pelas palavras ou pela imagem, pela constância do nível e empenho do seu autor, pela inovação dos temas, pela simplicidade com que me fazem viajar. Pelo tanto que me dão.

Assim, resolvi publicamente nomeá-los, sendo certo que a regra única é o meu gosto pessoal pelo blog.Não é um prémio nem um meme.Não é uma corrente e logo não é transmissível a mais ninguém pelo que só a Árvore das Palavras tem o direito sobre o registo de os indicar e o indicado não o pode oferecer.

Todos os meses, aos primeiros dias, revelarei a minha escolha. Publicarei aqui o selo Distinção Árvore das Palavras com a identificação do meu seleccionado de cada mês e gostaría que o blog distinguido também o exibisse. Mas isso já fica por decisão do visado.



Julho é um mês despreocupado. É assim que leio a escrita de RB, Pensamentos SGPS.



Num primeiro tempo. Porque após o deglutir das palavras, o incómodo. E depois a surpresa: A cada dobrar de parágrafo embate-se na gente comum, traços dos que conhecemos, dos que iludimos na ignorância da cidade grande que devora identidades.




Não se creia que o que se usufrui é o produto de um trabalho fácil, a fluidez de tal verbo deve-se ao facto da manipulação partir de quem sabe manejá-lo com mestria.



RB conhece-os, revira anonimatos e oferece jóias a cada texto que se sorve avidamente.

sábado, 4 de julho de 2009

O que diz o mar

Alojaram-se num hotel com vista para a baía de Cascais. Maria da Luz ocupava o seu tempo entre bordados e o peitoril da varanda. Embevecía-se com o pôr-do-sol e deixava a imaginação fluír e arrastar-se como o astro, até se esconder na linha do horizonte e entrar na noite. Era quando ouvía Alberto chamá-la para dentro. Achava então, que despertava de um sonho lindo e que a sua realidade de esposa e mãe eram tão pouco perante a grandiosidade do mar a receber o final do dia.
Suspirava.
Enquanto se preparava para descerem para o restaurante, em frente ao espelho compondo o cabelo que ondulara pela aragem maritima, recordava o seu caderno e quanto fora leviana ao dispensar os seus versos simples, e até mesmo o seu diário.
Sentía saudades de casa, da segurança do seu quarto, dos seus cigarros enrolados em mão trémula quando o pensamento lhe escapava para outras latitudes.
Agora entendía-se.
Percebía em si o gosto da partida e o quanto desejava conhecer mundo. Imaginava-se de mão dada com Rosmaninho a bordo de um grande navio, o chapéu de abas largas com fita a condizer com o vestido vermelho de bolinhas brancas. Tudo a esvoaçar como uma imagem que de si mesma assistisse. Interrogava-se porque não vía os gémeos e o marido a seu lado nessa viagem.
Entristecía-se.
A vida que parecía invejável aos olhos dos outros era uma âncora na sua.
- Não fiques assim triste Maria da Luz. Daqui a nada voltaremos a AM'art e verás como está linda!
Mas Alberto não a sossegava, só ouvía as ondas do mar.




(in A casa de AM'art, eu como Sant'Ana - Abril/2008)

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Repete

O rastilho comeu-se rápido numa chama pequenina avançando até ao ponto a destruír. Quando chegou lá cumpriu o seu destino. O estrago que causou foi tamanho que nem a dor das lágrimas foram suportáveis e o que podía escoar-se no alivio desse sal ficou-se a entupir pela garganta, pelos olhos, pelo peito, até pelo ventre e genitais.


Deitou-se de lado no desespero de ser dia, os joelhos a pressionarem o coração como um garrote que impede a hemorragia, a boca semi-aberta para respirar sem fazer ruído e acordar os outros sentidos. Acabou por adormecer.


Estava descalça. Viu-a pelo reflexo do espelho e chamou-a com um dedo. Depois abriu os braços, pendeu a cabeça, abraçou-se, tombou, rolou, fechou-se de joelhos junto ao peito. Repetiram juntas, abriram os braços, penderam as cabeças, abraçaram-se, tombaram, rolaram e ficaram a par de joelhos junto ao peito. Repetiram vezes sem conta e quanto mais o cansaço se fortalecía mais leve era o contacto dos pés descalços no soalho. Parecía um sonho.


Quando acordou a noite já escorría pelas paredes e os fantasmas fazíam a sua rotina. Rolou para o outro lado da cama, ergueu-se, abraçou-se a si mesma, olhou o tecto, abriu os braços e chorou.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Do escuro da vida

Visto-me de branco. Uma folha branca que os outros de mim cobrem pela cabeça, se prolonga até aos pés nús.
Tapo o segredo por dentro.
Há lutos que não passam.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Komm, tanz mit mir




Vago.
Passo as mãos pelos braços, os braços pelos braços, os braços pelo rosto e tiro mãos e braços e outras faces que me dançam por dentro em passo nús de gente que vagueia pela minha vida.
Vagamente.
Passo a correr, a caír, a erguer braços com mãos e mãos com rosto que encostam linhas nas rugas da face.
Vagarosamente.
Passo em passos que tombam da água de rostos que pensam que choram mas só vivem e exibem rugas nas mãos como destinos cortados à faca.
Vagas.
São ondas. São mares.
Fui-me num deles.
Estende devagar os braços e com as mãos segura o rosto enquanto a maré muda e eu volto.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Prémio Lemniscata




Da Mateso Azul, do blog aArtmus a Árvore recebe orgulhosa e agradecida esta distinção,


LEMNISCATA


“O selo deste prémio foi criado a pensar nos blogs que demonstram talento, seja nas artes, nas letras, nas ciências, na poesia ou em qualquer outra área e que, com isso, enriquecem a blogosfera e a vida dos seus leitores."


Sobre o seu significado: Curva geométrica com forma semelhante à de um 8; lugar geométrico dos pontos tais que o produto das distâncias a dois pontos fixos é constante. Lemniscato: ornado de fitas; Do grego Lemniskos, do latim, Lemniscu: fita que pendia das coroas de louro destinadas aos vencedores (Fonte, Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora).


Acrescenta Mateso, que o símbolo do infinito é um 8 deitado, em tudo semelhante a esta fita, que não tem interior nem exterior, tal como no anel de Möbius, que se percorre infinitamente.(Texto da editora de Pérola da Cultura).


Junto-lhe eu, que o meu número favorito é o 8, sem principio nem fim.


Por isso, aproveitando-lhe as curvas, contorno as regras e atribuo a 8 blogs este ornamento de fitas:


Obrigado Querida Azul. Sempre presente. Beijo a ti.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Morrer de paixão

As primeiras baixas da escrita vão para a paixão, o encantamento, o impulso, a convulsão tremenda que atira o nexo e a cogitação para o esquecimento. Resguarda-se a Poesia como arma secreta, o ultimo sopro, a ansiada mas vã cartada.
Faz-se sangrar nas reticências o bater do coração.
Tudo se torna enorme.
Na mão do escritor a mariposa dança, a espada desfecha a golpes certeiros e abertos o fluír de uma corrente quente despejada de um sentir electrizado que o consome e alimenta. Deseja a dor da lágrima, a dor da saudade, a dor da dor, uma seiva contínua que floresce a cada desenho, cada rabiscado engelhando folhas, emoções, sentidos.
Sente-se satisfeito na insatisfação: falta-lhe o ar, sobeja-lhe a inspiração.
Enquanto escrever a morrer de paixão o verbo lhe valerá.



(in AM'art, eu como Sant'Ana, Set/2007)

domingo, 28 de junho de 2009

Ouvir as nuvens

Peço às cigarras o silêncio, da lua não quero nada.
Espero que chova, talvez chores, talvez pressintas, talvez adivinhes, talvez distante me toques.
Peço ao céu uma mudança, do amanhã quero nada.
Espero sorrir, um afago, roçagar de rosa branca, talvez um dia empalideça na tua memória e tu perdido em ti me sonhes.
Peço ao tempo que se quede, dos deuses não quero nada.
Espero rara e difusa o fio da lembrança, o contorno da voz, o sopro da presença.
Não busques mundo fora, vem ouvir as nuvens.





(in Versos Ainda Mais Doidos, C.G -27/08/2007)

sábado, 27 de junho de 2009

Uma casa na árvore





O texto de hoje é-me particularmente dificil.


Porque fui a mentora e assumo todas as responsabilidades na minha pessoa da ruína que a Casa da Árvore se tornou.


Ou melhor direi se a chamar Casa assombrada, já que as visitas se desenrolaram dentro do mesmo ritmo ao longo dos seis meses desde o seu nascimento e para quem gosta de números e de estatisticas, refira-se que a média foi de 110 visitas/semana. Claro que o que está à vista é o óbvio ou não faría sentido este texto.


Da intenção de participar ficou-se por isso mesmo. Do comentar os trabalhos que os Autores amavelmente quiseram emprestar para o crescimento e embelezamento da Casa, como diría outro de má memória, é fazer as contas.


Não vou especular razões, já assumi o fiasco em que o projecto colectivo se tornou e por isso nada resta para além da dignidade com que o fiz.



Assim, serve o presente para comunicar o encerramento definitivo com a eliminação do blog onde residiu a Casa da Árvore.


Permanecerá como era hábito, aberto até ao dia 30 do corrente, permitindo a quem nele participou poder retirar os seus trabalhos se não o fizeram.



Obrigado a todos os que acreditaram e tiveram vontade.






Este mesmo post está reproduzido na Casa da Árvore.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Outras palavras

Chamava-lhe krida ou amore, saíam-lhe assim sem ser por mal, mas também sem ser por bem, eram desta maneira a forma de lhe substituír o nome que já esquecera pois quando pensava nela ou tinha de a chamar o automático ligava-se e disparava as duas palavras comidas ou acrescentadas, um caldo de dias refrigerado ou de água somado para tapar o buraco. Ela respondía, era para ela, era o que ele lhe baptizara no inicio de juntos e assim ficara porque há coisas que não se percebem mas também não se questionam e no final de tanto tempo aqueles carinhos davam sainete para fora que os elogiavam como casal tão chegado. Na troca do krido ela dava-lhe o filhu e aperfilhara de bom costume o amore para tudo servindo, fosse para chamar para o almoço fosse para o gozo de cama.


A verdade, é que essas duas palavras eram das poucas que oferecíam. Ou pouco mais. Complementavam-se na acção com o apontar do dedo, o aceno de cabeça e mais um termo que servía para designação geral: o coiso.


Levaram a vida na dimensão vocabular da sua felicidade. Nunca questionaram o uso de outras palavras ou o jogo mágico do alfabeto, era tudo uma questão de amore. Coisas do pequeno mundo do coiso.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Gente vulgar

O que ficou por olhar, tocar, murmurar foi afinal o mais raro.
As palavras que foram ditas e os sorrisos que delas se acenderam foram a coisa comum e directa da vida numa relação de causa-efeito. Ruelas numa via principal. Sem nome. Que a pardacidade da gente vulgar encolhe a vontade do risco, arrepia caminho às adivinhas, prefere o recuo malandro ao desbravar, exonera-se no destino e volta para tráz seguindo o caminho das pedras.
O que ficou por sentir tem o encanto sebastiânico e cesarino do que podería ter sido, a memória do que não chegou a restar, areia presa entre mãos que tão pouco têm estas poder e arte para segurar o coração ou cercear o voo do querer.
Sempre entenderão o mundo como dia e noite, quatro estações, nascer, respirar e partir.
O que ficou por dar e mostrar foram os sonhos, jardins de poesia que despontam frescos mas perfumados de venenos que viciam.





C.G., Set/2007

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Máscaras

Em tudo eu há dois,
Carvão e ardor
Morte e desejo.
Em tudo mim se desdobra
De si,
A meio,
A quarto
Crescente...
Uivo na cheia,
Nado na noite a fugir,
A correr dos dois
Eu
E eu.
A cada dois,
Sou-me, invento-me, eu a mim!
Eu a eu.
E mais fogo e mais chuva e mais não e eu
Também!
Teimoso o eu do eu!
O do meio,
O que separa dois,
O que fatia,
Fatia a talhada.
São dois.
São eus,
São gémeos de mim.





(C.G.-Março 1989)

terça-feira, 23 de junho de 2009

O coração

Ei-lo.
Apoiado no cotovelo, espalmando-se contra o balcão frio de um qualquer bar, escuro e fumarento, lugar de solitários que se acompanham como a matilha, em grupo e cada um por si.
Lá está ele, de tão profundo vermelho cambia no negro, como uma pisadura de tantas dores que sofreu, ergue-se e afunda-se em carrocéis de sem-fim, desalentado agora, ansiando logo mais que uma gota de luz o avive, faça saltar, quiçá pular e perder-se no mundo afora.
Escondido, amachucado, pequenino que precisa de colo, uma só palavra fá-lo sorrir, um só olhar atira-o para um poço fundo e lodoso.
Ali sorridente, maravilhado como os tontos ficam, cego à fealdade, alimenta-se parca e violentamente de colheradas mal trituradas achando-se rei no manjar.
Observem-no: não o acham comum, patético naquela tristeza primária de abandono?
E no entanto vêmo-lo altivo, comandante, audaz e herói...





(C.G.-03/05/2006)

segunda-feira, 22 de junho de 2009

(Surdos) Silêncios

De repente um silêncio tremendo, uma invisibilidade que quase desconfio me há-de rebentar. Calados dentro de mim, sem baterem com os punhos sob a minha pele, sem exigirem o seu pedaço de atenção, a dormirem na mesma hora que eu.


Na verdade ouço-os mas faço de conta que não é importante.

Sei que por um destes dias vou pagar as favas e nada os fará travar na incontinência verbal com que costumam aparecer triunfantes.
Pena que me sinta tão cansada que nem darei a luta que merecem. E mais acabada estarei depois, quando eles entenderem que já disseram incontrolavelmente tudo.
Confessadamente, por estes tempos acho que não sou de ninguém ou serei um bocadinho de todos ou não serei nada disto, apenas o formigueiro que recomeça num silêncio surdo.


Volta tudo. Assisto-me e critico-me, eles aplaudem, acusam, fecho-me no armário. Um deles acende a luz. Queres ser responsável pela minha morte? Não. Então sai daí e atira-te à folha, cobarde!


Dói a mão mas já não é a mão, é todo o corpo num autismo das horas.


Sentam-me ao colo, afagam-me o cabelo enrolado nos dedos, brincam no lóbulo, dizem segredos enquanto me massajam as costas hirtas do hábito vertical, risco ao meio, metade eu, metade eles.


Eu toda escrevo. Vos.

domingo, 21 de junho de 2009

Risco a risco

Se aqui foram tantas as vezes que te lembrei também pode servir de lugar de esquecer.


Agora... Só preciso de saber como é que isso se faz pois por mais exercicios que arranje para te tirar dos meus dias mais eles ficam ocupados contigo e todos os pequenos pormenores que eu julgava não terem acontecido cospem-me a direito.


Achei que se escrevesse sobre recordar e apagar e depois riscasse com força por cima todas as palavras já escritas este mal estar ía-se. Entranha-se. Por cada palavra o equivalente a uma moeda que se enfia numa ranhura e debita um som ou um boneco ou um petisco e lá sais tu a sorrir, a cantarolar ou a falar com a ajuda das mãos num emaranhado de fios invisiveis.


Chega o meu café, o meu sumo, tudo igual ao café e ao sumo que tomámos juntos, porém outros suaram para arrancar as bagas e estas laranjas são de outro sol. Marco a chávena e o copo com as impressões labiais, talvez as tenhas levado também marcadas em ti e quem sabe no próximo café, no gole do sumo te lembres. Mas só nesse gesto porque já terás esquecido.


Não escrevo nem risco mais.


O empregado recebe o meu dinheiro, agarra na caneta e desenha um grande sorriso ao lado dos riscos. Deixo as folhas na mesa.



(in Eu na Versailles, escritos improváveis, C.G.- Nov/2005)

sábado, 20 de junho de 2009

Contra as horas

Madrugada, noite funda.
É a esta hora a eleição das letras, do bater rápido mas mal tocado nas teclas que distribuo por frases, combóios delas. Parece que a pouca da noite dormida se encheu e o caudal agora sem retenção possível alaga páginas de um virtual onde o silêncio, o gato dormindo sobre a secretária à minha esquerda no aquecer da lampada e o café esquecido na chávena da sorte são ninho bastante para me acomodar e fazer leito desta água que desafogo por aqui.
Vem o sono, o bocejo, os pensamentos por este, aquele, lugares, sons.
O eu de mim sacudido pelos eus. Seguram-me a mão, ajudam-me a marcar letras. Abro os olhos e as palavras já cá estão. Fui eu? Não, fui eu.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Memória sabática (2-Os sons)

Por volta das cinco da manhã levantava-me, fechava a porta da cozinha, tentava que o barulho da velha máquina de escrever não acordasse o resto da casa.
Trazía folhas soltas escritas dos dois lados, sem continuação do parágrafo solto aqui e ali, depois noutro lado, depois em lado nenhum, que a verdade é que nunca fui muito de tomar apontamentos ou até mesmo agarrar-me aos livros como uma menina estudiosa; passava tudo pelo ouvir, pelos sons das palavras que me chegavam e eu agarrava na lembrança, era muito como o cantar de cor.
O inicio demorava, a folha encabeçada pelo título ficava especada a olhar-me. E num repente, em ondas imparáveis chegavam palavras, frases inteiras, uma velocidade dificil de acompanhar, desenvolvía-se o trabalho quase por si mesmo. De quando em vez a objectividade escapava-se por entre linhas mais ou menos poéticas, a ficção aparecía, fugía do meu rumo inicial, aquele não era um texto de faz-de-conta, as teclas a baterem no papel e a tingirem-no, uma e outra letra que teimosamente se prendía entre os ganchos das outras, retrocesso, engano, radex, tablador, roda o cilindo, muda a linha.
Pelas seis e meia o sono aparecía, a Mãe também, o sermão, por fazer os trabalhos em cima do acontecimento, o barulho a incomodar os que queríam sossegar, a nota que decerto, sem preparação prévia nem estudo aplicado rondaría não mais do que o suficiente... Arrumava tudo, acertava as folhas cheias, recolhía-me e finalmente dormía num sono profundo, cansado mas sossegado depois de remoer uma insónia antes de despejar o que tinha dentro da cabeça.
Nunca tirei notas inferiores a 15, 16 valores. E hoje acordei com o som da máquina de escrever, a voz da minha Mãe a ralhar-me, um tempo que eu achava dificil, mas só porque não conhecía os de agora. Agora não me dão notas de 15 ou mais valores, mas continuo a ser avaliada e nem sequer me dizem quanto merece o meu trabalho.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Entrançando

Ao fim de pouco mais de três anos voltou a entrançar o cabelo. Uma trança grossa, com todas as recordações que o cabelo comprido e a cabeça rapada lhe trazíam. Dois extremos de uma só. Duas metades de uma moeda como imagem de marca. Nada de meios termos, coisas ao de leve. Ou sim ou não, ou branco ou negro. Num infindável colorido.
Mas entrançar o cabelo teve a mística de recuar. De avivar tempos em que amigos, amores e inimigos estavam, em que o tempo parecía maior para cuidar de todos eles.
E o que lhe parecía é que o tempo que passara havía sido sempre melhor do que o presente. Embora na verdade não o tivesse sido, ou pelo menos fora tão mau e tão bom quanto o que agora lhe corría.
Talvez por isso tenha entrançado o cabelo, entrançado o tempo entre mãos na vã ilusão de que há poder bastante para se ser a mão sobre o mundo e o destino uma palavra inventada por um poeta.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Jogos (virtuais)

Eu - e até os outros de mim - já apreendemos que daqui há um número de regras para jogar este jogo. Mas as regras mudam sem aviso prévio e o que era permitido passa a ser o caminho directo para a prisão sem passar pela casa partida e sem receber dois contos.


A questão não é tanto a mudança de regras mas a previsibilidade com que esta se opera. Um jogador atento rápido se apercebe quando a maré é de pouca sorte e deve retirar a mão antes de lançar a cartada que o tornará o borrego sacrificado.

No fundo, a transparência regular com que este mundo se desenrola permite estar preparado para os passos seguintes e se hoje a coisa correu menos bem basta esperar (não muito) que logo volta a ser o senhor dos dados.


Agora... e se alguém furar este ciclo?
Pois é, é coisa inesperada, mas muito divertida de se jogar...

terça-feira, 16 de junho de 2009

Perfil do tempo

O tempo escorre-me. Eu derrapo.


Voltou de novo a despistar-se numa curva qualquer que ainda não descobri.


...Talvez sim e apenas me acuse.

Talvez sim porque a fertilidade das palavras encharcou-me de novo e nada faría pressagiar esta vaga imensa que me deitou os joelhos por terra. Vergo-me.


Talvez não, talvez tenha baralhado as prioridades de quem me chama e tudo isto no final se trate tão só de uma escolha.


Nem sempre o urgente é o importante. Resta apurar se a urgência dos eus é o mais importante para a felicidade do mim. Se do tempo dependo se de mim espartilhada culpo os outros na responsabilidade da escolha.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Dizer com árvores



Hão-de ser tela onde se roça o verbo depois embrulho outonal de castanhas e a seguir chapéu de louco ou nau catrineta.


Até lá são prumos de abraços, desejos de bem aventurança, dedos que crescem da terra e apontam o caminho, são lembranças da minha terra, da tua, de quem sabe o fado no assobio salgado do mar que ficou para trás, milhas do gostar, dão nome ao tamanho do silêncio raro do ar alto.


Dizes faias, antigas de um século que se perdeu.

Digo faias, um século de estima que não se ensinou. Rompeu como árvores.




Obrigado Pézinhos, abraço-te.




Foto de faias selvagens do séc.XVIII, parque de Düsseldorf, de Marina H.F.

domingo, 14 de junho de 2009

Fala-me do que vês

Naqueles dias falavas-me de pedras, davas voz ao que elas te sussurravam erguidas no casario que dava cobertura a histórias que todos conhecíam mas ninguém tinha a arte de as falar como tu, eu perdía-me no som e passei a considerar que as pedras eram tão vivas quanto uma rosa apanhada pela manhã para acompanhar o pequeno-almoço ou os lençóis depois da engelha dos corpos naufragados no indecifrável do sono, singularidades da vida, singularidades das pedras de que tiravas sustento, mais a mim é verdade, que te tinha mais perto do que nunca, tu satisfazías o teu prazer no toque, no apontar, no hipnotismo da boca aberta à espera da próxima colherada, davas-me pedras e montanhas e castelos no pico dessas montanhas e eu crédula, punha-me nas ameias e aguardava os dias da estória.

sábado, 13 de junho de 2009

Parabéns

É mentira.

Digam o que disserem não acredito, não há a menor possibilidade de ter acontecido. Como podería? Falo com ele todos os dias, por vezes mais do que uma vez, escuto-lhe os receios, os anseios e quando não é ele que chega, um outro vem e se reflecte no vidro da janela a falar com o meu reflexo.

Cavaqueamos.

Admiramo-nos inconfessadamente. Recatadamente como uma admiração que se tem pelo outro mas não se quer dar a entender por parecermos tolos em permitirmo-nos sentir essa alegria única. Escrevemo-nos assiduamente, mesmo falando todos os dias, encontrámos a sublimação em repartir esta espécie de amor através das letras, assim parece que não nos viciámos e não estamos dependentes um do outro. Cobardemente.

Mas que interessa?

Se este é o nosso mundo, a nossa aldeia, o nosso Rio a chorar por nós. Não nos podemos condescender nas lágrimas próprias, deixamos a epifania para os outros. Eu nada lhe digo e ele cumpre igualmente a parte do acordo: Insatisfação, felizmente.

Por isso, repito, é mentira que tenha partido. Encontro-o em mim nos segundos que respiro a fingir que sou eu, ou ele, ou todos nós nos multiplos orgãos que pulsam, que desejam, que envelhecem precocemente a esgotar um raciocinio que tantas vezes condenamos, castigamos e absolvemos.


Pronto, só quería dizer Parabéns Fernando Pessoa.











Bibliografia: De luto por existir, O ano da morte de Ricardo Reis, O Guardador de rebanhos, O livro do desassossego.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Lutas

Mais uma.

Mais um episódio de embates frontais em que os eus gritam a sua supremacia de braço erguido e esperam que eu proclame o vencedor. E o derrotado.
Sinto que esperam de mim essa atitude, aguardam-me vitoriosos ao esmagar o outro, do eu sobre o outro, o eu sobre o eu, um choque frontal de vencedores, cada um a seu modo e a seu tempo. Eu - sem tempo e sem modo de na omnipresença declarar na intemporalidade e simultaneidade quem leva o troféu.
Eu - um despojo de guerra.
Tentam repartir-me mas o orgulho impede-lhes de me levar aos bocados. Ou tudo ou nada.
E nisso somos (eu+eus) iguais.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Machado

Se se esgotasse, sem aviso, sem maleita a comer devagar, tudo a ir-se por um cano que escoasse este liquido imenso que me queima todos as manhãs sem nome nem número marcado que faría eu do resto de mim, das minhas mãos, de toda a pele e veias e também os olhos que primeiro recolhem as letras adicionando-as numa carruagem desenfreada de verbos, que sería eu, já morta e a feder sem a vida que não consigo explicar neste oxigénio que me dá brisa e me sufoca, sem mim própria a combater?


Se tal acontecer cortem a árvore. Por favor.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Dormir, acordar, dormir

O absurdo desperdício do sono, xaile invisível que asfixia a tinta das mensagens esvanecendo os pequenos nadas que se coleccionam, é a vida, quero contar das vidas mas pereço aquecida no abraço que dá colo, leva, nina, passa as franjas suaves no rosto, sossego por fora, se queres aventura trago monstros e mares e inunda-se o papel branco como um túnel onde a luz cega percorrido no cansaço de contrariar o pouco do corpo, alerta, não te firas na caneta também adormecida, as letras deitadas e juntas perdidas da mão que se fecha no hábito dos dedos que contam era uma vez, do caos parado pelas mortes fingidas e precisas para reerguer e nascer e fazer dos dias um tudo novo.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Dimensão

As palavras não têm retrocesso. Depois de ditas, cantadas, cuspidas, escritas não se pode voltar atrás. Mesmo que no pedido da desculpa o perdão seja uma lança a enterrá-las, sempre haverá a mancha adocicada ou a nódoa que para todo o sempre reavivará ao menor sinal de dúvida.
É que as palavras são feitas de carne. Podem acariciar como uma mão nas costas ou magoar como um soco no estômago.
As palavras são alma. Desenfreiam tempestades e revelam a luz da confissão.
As palavras são homens, são mulheres.
Usá-las levianamente é o mesmo que emitir ruídos. Silenciá-las no tempo certo é a eloquência maior. Proferi-las é dar de si. Escrevê-las é entrar na 5ª dimensão.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Chuva de Junho

Chove, água de Junho, vem fresca à terra enrugada aliviar-me as saudades até ao tempo certo dela, tempo demasiado para voltar a senti-la molhar-me na cara a bonomia infante, os sons dos avisos, foge das poças, as lágrimas dos esfolões no joelho mal sarado da última queda.
Fico aqui. Muito parada a olhar o tecto do quarto enquanto as pingas cantam no metal do varandim e engrossam estaladas nas folhas das árvores ajoujadas de flores. Se não me mexer a chuva não vai embora. Nem o guarda-chuva vermelho que servía de equilibrio ou como medida da fundura dos lagos ovalados no passeio incerto. Fico aqui e afundo-me nas mãos junto ao peito a ouvir-me perguntar se me irei lembrar da chuva quando for grande. E porque me lembro e gosto (mais) ainda sou pequenina, ainda não sinto saudades.

domingo, 7 de junho de 2009

Meme

A Mateso Azul do aArtmus convidou-me para este meme que eu aceito com o maior prazer.



Responder a cada uma das questões pela boca de poetas.


És homem ou mulher?

Não sou nada.

Nunca serei nada.

Não posso querer ser nada.

À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. Álvaro de Campos

Descreve-te:

Faço por confundir a minha sombra comigo:

estou sempre às portas da vida,

sempre lá, sempre às portas de mim! Almada Negreiros

O que os outros acham de ti:

Tanto de meu estado me acho incerto,

Que em vivo ardor tremendo estou de frio;

Sem causa, juntamente choro e rio;

O mundo todo abarco e nada aperto.

É tudo quanto sinto um desconcerto;

Da alma um fogo me sai, da vista um rio;

Agora espero, agora desconfio,

Agora desvario, agora acerto. Luís de Camões

Como descreves o teu último relacionamento?

A praia abandonada recomeça

logo que o mar se vai, a desejá-lo:

é como o nosso amor, somente embalo

enquanto não é mais que uma promessa... David Mourão-Ferreira

Descreve o momento actual de tua relação:

Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo

Mal de te amar neste lugar de imperfeição

Onde tudo nos quebra e emudece

Onde tudo nos mente e nos separa. Sophia de Mello Breyner

Onde querias estar agora?

Qualquer caminho leva a toda a parte

Qualquer caminho

Em qualquer ponto seu em dois se parte

E um leva a onde indica a estrada

Outro é sozinho. Fernando Pessoa

O que pensas a respeito do amor?

Ó Céus! Que sinto n'alma! Que tormento!

Que repentino frenesi me anseia!

Que veneno a ferver de veia em veia

Me gasta a vida, me desfaz o alento! Bocage

O que é a tua vida?

Porque é que este sonho absurdo

a que chamam realidade

não me obedece como os outros que trago na cabeça?

Eis a grande raiva!

Misturem-na com rosas

e chamem-lhe vida. José Gomes Ferreira


O que pedirias se tivesses um só desejo?

Há palavras que nos beijam

Como se tivessem boca,

Palavras de amor, de esperança,

De imenso amor, de esperança louca. Alexandre O'Neill




Para todos os que quiserem participar.




À Mateso, muito obrigado, um beijo.

sábado, 6 de junho de 2009

Distinção Junho 2009






Há blogs que pela sua qualidade me merecem destaque.


Seja pelas palavras ou pela imagem, pela constância do nível e empenho do seu autor, pela inovação dos temas, pela simplicidade com que me fazem viajar. Pelo tanto que me dão.


Assim, resolvi publicamente nomeá-los, sendo certo que a regra única é o meu gosto pessoal pelo blog.
Não é um prémio nem um meme.Não é uma corrente e logo não é transmissível a mais ninguém pelo que só a Árvore das Palavras tem o direito sobre o registo de os indicar e o indicado não o pode oferecer.


Todos os meses, aos primeiros dias, revelarei a minha escolha. Publicarei aqui o selo Distinção Árvore das Palavras com a identificação do meu seleccionado de cada mês e gostaría que o blog distinguido também o exibisse. Mas isso já fica por decisão do visado.




Junho, já com calor, é mês de falar do que vai no peito, insuflar, colorir as emoções e fazer delas o palco da vida.








Escutem o ritmo cardíaco deste verbar.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Aos poucos, mais uma

Mais verdades.

Eu disse que havería de dizê-las.

E posso falar delas porque me custaram do corpo, da alma, das palavras que me levaram arrancadas em madrugadas que não me lembro, pois não fui eu que as fiz e desfiz, sentei-me de lado à espera que as escrevessem, de vez em quando a permissão para olhar e ler.


Aqui foram-se num leito de águas. Por vezes salgadas dos meus olhos. Ou então não foram lágrimas, foi do esforço de as sentir para fora de mim.


Eu disse que havería de dizê-las. Cartas ao mar. Porque a vida é mesmo assim.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Corpo de mensagem

Mensagem sem título.

Se demorar alguns minutos o texto que não escrevi fica salvo. Está tudo branco e luminoso, fere os olhos, imperdoável, obriga a virar a cabeça como duas mãos que amparam o rosto e o fixam num objectivo.

O dedo mindinho apoia-se na tecla das maiúsculas, ficou este tique de um tempo em que as máquinas de escrever davam cabo do verniz e era preciso certeza para saber de cor onde se punham os dedos, o bom era não olhar as letras mas isso também vale agora e poupa-se imenso tempo.

Claro que isto é produtivo para quem não tem o meu problema de dislexia. Mas também é verdade que assim que salto, troco, engulo as sílabas, as palavras, por vezes quase toda uma frase que só escrevo na folha mental e se escapa ao tinto do desenho alguma coisa me diz que falhei.

Talvez o melhor fosse parar por aqui.

Ainda há tempo para não dizer nada sobre o que é escrever, escrever-me por dentro e por fora.

Nada escrever. Mensagem sem título e sem corpo de mensagem. Uma folha branca sem mancha.

Guardar agora. Publicar.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Isto é uma árvore

Aqui não é um diário. Aqui não falo de mim e do que gosto. Aqui não confesso coisas inconfessáveis à sombra de uma árvore que me pode dar protecção à minha verdadeira identidade sem o incómodo de parecer ridicula ou ficar falada. Aqui não procuro companhia nem popularidade nem justiça nem simpatia às minhas causas. Aqui não choro nem me lamento, não me firo e não me chateio.

Aqui escrevo, estou imune.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Fabular(es) -7ºEnsaio

- Então?
- Confirma-se.
- Quer dizer...
- Isso mesmo.
- E agora?
- Parar. Só isso. No absoluto.
- Nem um bocadinho de...
- Nada. Stop.
- Eu não consigo viver assim, não sou eu...
- Imagina que não tens pernas. É fácil. Só isso.
- Não imagino, não sou eu.
- As árvores não têm pernas.
- Têm raízes.
- E não deixam de dançar. Ao vento, sob o sol e a chuva... Brancas com a neve, encantadas...
- Não há neve aqui. Não habitualmente.
- Imagina que há. Não és tu que vais a tantos sitios e consegues ser tantos?
- Mas isto não é a mesma coisa, não isto...
- Prova a ti mesma que consegues dar mais este salto.
- Sem pernas?
- Usa as raízes. Expande-te.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Dia um, decisões

Devía tomar uma decisão e entrar de férias, mandar o corpo às urtigas e ignorar-lhe a mortalidade, aproveitar para queimar tudo até ao fim e aqui sim, a parte boa e suculenta dos neurónios, se é que algum ainda se aproveita dos consecutivos sobreaquecimentos. Isto é máquina sem refrigeração incluída, é usar até explodir e como não há mostradores nem leds que emitam sons e piscos luminosos a indicar o perigo é tudo na base da sensibilidade, olha deve estar na altura de parar e dar-lhe algum descanso, deixar arrefecer antes que derreta. Depois siga, volta tudo ao mesmo.

O primeiro dia do mês é um dia bom para grandes decisões.

Podía mandar a cabeça de férias e a escrita às urtigas, nem precisava de me lembrar da mortalidade do corpo.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Atrasos

Estou esbaforida, atrasada, eu que tenho o culto da pontualidade deixei-me rasgar nas horas por coisas de caminho, pequenas distracções que me prenderam a atenção e conseguiram desviar os meus olhos pelo tamanho das cores ou pela simplicidade do colorido gigantesco com que a lupa as transformou. Ou terá sido a importância a lente aplicada para ver sem cegueiras mentais o que de facto existe e o que de facto se transforma em imagens quando a expectativa é tão só um exercicio que acomete o espirito descalço e desataviado de filtros.
Atrasei-me, mas não estou certa de que se tivesse chegado no tempo esperado valería a pena o cumprimento. Ou o que se esperaría de mim. É que de mim pode esperar-se tudo, tanto, que até o nada pode ser. E já será alguma coisa. Mau mesmo é quando não me ralar se chego ou não. Ou será essa a importância das coisas e o que me merecem.
Já cheguei, mesmo que atrasada cá estou, e assim tomo conta disto, época dificil esta, muitos incêndios e a árvore tem sede. Esta merece tudo o que lhe sou.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

O fundo é (sempre) branco

Agitou o pincel no copo de água, do ocre esvanecido uma espécie de fumo liquido criou ondas e fiapos e por fim tingiu uniforme numa cal parda despojando-se no segundo de toda a intensidade que a cor tivera no incolor. Ali, restringido a um mero copo de água morrera.

Tentou o vermelho. O mesmo, e o copo agora um pantano esverdinhado e opaco.

Voltou à aguarela enquanto o papel ainda estava húmido e em vez de tingir o pincel no redondo das tintas duras mergulhou-o no copo que fora de água limpa.

Encrespou-se, entre o verde fundo e o branco inchado alteraram-se as moléculas e sem que pudesse ter mão toda a água lhe saltou ao peito e o salpicou no rosto obrigando os olhos a cerrarem-se pela violência da tempestade. De seguida os gritos do encarnado, uma submersão entre destroços, bóias e braços e pernas e ainda bocas que pedíam a salvação numa nau esfrangalhada entre o ocre e o verde.

Quis agarrar o papel, enrolá-lo, amachucá-lo entre os dedos mas por cada investida mais a água que o empapava lhe subía ao nariz e impedía de respirar.

Olhou o copo antes do braço descer ao fundo. Limpido, cristalino...



(Telas, C.G. Março/2007)

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Cabeças

É dificil concentrar toda a força no acto de quem projecta ao longo do braço o mundo, os mundos, tantas outras galáxias que não são do conhecimento do humano, despejando imagens encriptadas em letras e fazer entender(-se) que por vezes esse gesto provém de um monstro onde várias cabeças se degladiam para tomarem vez e voz. Mais ainda se cada um desses guerreiros é exímio no manejar dos argumentos. Maior a dificuldade se tem a habilidade bastante para usar do sentir como escudo partindo claro, para o contra-ataque.
É que para escutar um nem sempre se atenta aos demais e ou cai-se num amadorismo remendado ou então - e fatalmente- cortam-se as outras cabeças impedindo a torneira pragmática de pingar uma gota mais que seja.
Mas o que dói mesmo é que se o mal/bem for cortado pela raiz também a nossa cabeça rola e muda a partir de então nessas bocas que expelíam letras, inevitável será sentir que se é gente pela metade.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

O estrangeiro

O mapa dobrado como uma concertina estava de pernas para o ar, mas o dedo sabía perfeitamente que era aquele o círculo que quería, aí era o seu destino. Pedía desculpa ao abordar, tentava não enrolar a lingua naquelas palavras estranhíssimas mas só à terceira vez é que percebíam o que pretendía.
Costumavam responder-lhe aos gritos e como não entendesse as direcções que lhe apontavam mais alto ainda lhas dizíam de peito encaminhado para a rua que devía descer e de costas para ele.
O homem parou, olhou o mapa, o dedo e o círculo, a cara do estrangeiro e abanou a cabeça afirmativamente, o outro sentiu a angústia menos acentuada.
Seguiram ombro a ombro, o estranho na cidade tentando falar a lingua nativa do outro, albardando-a com exclamações no seu próprio idioma, o outro sorrindo, sorrindo e concordando.
Chegados ao ponto pretendido o homem da cidade agarrou o pulso do estrangeiro, a outra palma abriu-se no gesto largo do que se oferece.
O outro sorriu, não sabía palavras melhores para agradecer o que tinham feito por ele para além das do dicionário de bolso. Era pouco.
Agarrou entre as suas a mão daquele estranho que não proferira palavra durante a caminhada, sacudiu-a, apertou-a, o outro sorriu, tocou-lhe no ombro e libertando a mão disse-lhe em linguagem gestual que era altura de ir à sua vida.

terça-feira, 5 de maio de 2009

[Fera privada]

Antes de fechar os olhos suspira longamente, muitas vezes assemelha-se a um vapor escapado de uma panela sob pressão. Espalma-se mas o corpo tem o ar de gigante a contrastar na quietude do aveludado da pelagem e as orelhas que tremem pendentes ao ritmo do bater do coração demonstram uma quase infantilidade que não passa, parece nunca passar o tom de alegria.

Algures sonha. Rosna baixinho. As patas dianteiras agitam-se, distintamente as almofadas negras e redondas mostram o relevo do calejado entre um pelo branco, sedoso, macio e felpudo.

Espreguiça-se, tasquinha, ajeita as bochechas que cobrem dentes serrilhados e outros de presas aguçadas e no entanto a mansidão, a barriga que pede a mão acolhedora.

Abre os olhos, encara-me, chamo-lhe o nome, a cauda abana molemente, tem sono, encaixo-me nele.

Adormeço no dorso do lobo e sinto-me salva.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Os dois mundos

Impõe-se à cabeça a condição derradeira de não ultrapassar a dissertação para além do aceitável, o que quer dizer -e porque aqui é o virtual- que o texto não terá mais de 2 minutos de leitura, poderá conciliar-se num sumário apenas pelo enviusado do olhar ao último parágrafo e o encaixe de algum eventual comentário será na medida das letras comidas certeiro, se bem que nestas coisas da sensibilidade é tudo muito subjectivo.
Mas se este mesmo apontamento estivesse inscrito na planicie branca -analógica (será???)- aí a atenção sería refém e a custo pedir-se-ía que o fim se evitasse. Bom, ninguém leva a sério um escritor de livros de 20, 30 pag.s, isso é quase um catálogo.
Passado este parentesis, começo:
Os dois mundos.
Esse tão ansiado quanto utópico, o mundo desejável.
Não vou escalar razões nem tão pouco sonhos, há-os no colectivo e depois aqueles que guardamos na íntima vontade e alimentamos para não deixar definhar até ao fastio completo.
O outro mundo é a escrita.
A maravilha que produz sensorialmente, a capacidade de nos objectivarmos e saltarmos muros mais altos que todo o nosso tamanho, a capa com que nos cobrimos e desnudamos. Fornece energia a quem a executa, fornece energia a quem vampiricamente obtém de graça uma transfusão de sangues novos e fluidos que nutrem o corpo, a alma.
E pronto. Era só isto quería dizer, os dois mundos. O desejável e o da escrita.

domingo, 3 de maio de 2009

Shhh...

Não digam nada.
É um despudor haver tanto sol e o calor ter-se lembrado.
Recorto o dia do calendário, deito-o fora, vou para dentro do tronco da árvore e fico por lá até passar hoje.
E mandem calar a brisa, nada de cantorias entre as folhas.

sábado, 2 de maio de 2009

Bagagem

Faço de conta que te sentas comigo. Podes tomar o que quiseres. Conquanto que me olhes o bastante para não te esqueceres de mim quando te fores embora e quando os anos passarem sem nos voltarmos a encontrar.

Vem o empregado, faço de conta que não queres nada, que te chega o eu estar aqui e que tudo o que te alimenta neste instante são as palavras que sabemos não poder dizer, essas são sempre as que se guardam porque as sabemos mas não queremos violar os seus segredos.

Quero que leves também o ruído, as cores e os cheiros, as velhas senhoras do chá das cinco, os homens sós atrás dos jornais e a luz. Aquela luz filtrada que se estica como um tapete quando abrem a porta e entram, entram sempre, também devem trazer alguém para fazer de conta e acompanhá-los.


A partir de agora não faço mais de conta, não vou voltar a lembrar-me de ti.


Hei-de aqui vir mais dias, sento-me aqui onde agora estamos. Talvez escreva. Mas não te hei-de inventar em linhas nem farei descrições sobre como és ou começarei os parágrafos por este dia em que te peço para me recordares para sempre.


Talvez escreva... Ou não.
.
.
(in Eu na Versailles, escritos improváveis, C.G.-Novembro/2005)

sexta-feira, 1 de maio de 2009

2

Já agora digo-vos: E vão dois. Ainda. Apenas dois séculos esse é o peso que sinto às costas, mas também a frescura do inicio dos ensaios, tanto a descobrir, tanto a desvendar, tanto do exigir-me e extremar quando a fronteira mora onde eu quero.
Só 2 passos, umas vezes a pulos, outras de pé em riste, muitas, muitas vezes em pontas.
Passos que aproximaram mãos às minhas, olhos, o calor da pele, o som de risos, letras que se emaranharam noutras e formaram palavras com redobrados encantos.
Faz 2 anos que aqui cheguei. Plantei uma flor depois uma árvore. Já me arrependi e já bati palmas, já perdi a vontade e voltei com a vontade que há em mim, já fui eu e outros e outros de mim voltaram a ser um eu, que não eu.
Por isso, amanhã estou cá de novo. E depois também. Enquanto me fizer feliz.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

O reino

Ali o meu reino.
De palma ao céu contavam-se linhas muito profundas outras apenas o que parecía ser um esboço abandonado e mostrava o lugar. Não apontava, o gesto tinha a leveza soberana de quem gosta do seu sitio e cuida que as fronteiras cresçam sem melindrar vizinhos ou inimigos, que até nestes, honrados, se lhe encontra a valoração para se saír vencido.
Já o fora, bastas vezes a cor azul do sangue lhe havía subido nos olhos e na boca e tudo à volta ferido se tornara branco. De um branco neve e frio sem consolo de palavras que lhe dessem força para erguer nos joelhos que fosse, pequeno de novo no engatinhar do recomeço.
Não se envergonhava, eram lutas suas, ganhas umas outras lições.
A ofensa do riso a quem mostrou o seu reino não lhe tocou, a solidão é mais cruel.
Sentou-se na mesa, recolheu os papéis embaraçados de letras. Mostrar o reino não faz de ninguém súbdito, tão pouco rei.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Aqui há selo - 2009

Está a decorrer a fase final deste passatempo. Até dia 8 de Maio, podemos votar nos selos da nossa preferência. Dos 10 em concurso, os 5 mais votados serão apreciados por um júri.Podemos votar aqui.Creio que este ano há fortes probabilidades de termos um selo relacionado com o abandono de animais...





Este post é uma réplica do que foi escrito pelo Van Dog.









Eu já votei. Ajudem quem precisa de nós. Nós precisamos deles.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Do VicKtor para a Árvore







Sem explicações, do meu Querido Amigo VicKtor da Oficina das Idéias.


Com um abraço imenso e um beijo da Árvore para ti. Obrigado VicKtor





Regras abaixo:



1 - Exibir a imagem

2 - Indicar o link do blog que o premiou

3 - Publicar estas regras

4 - Nomear 10 blogs

5 - Comunicar aos contemplados





Não vou seguir estas 5 regras. Quem se sinta dentro dos parâmetros da concepção deste selo há-de saber que a Árvore os nomeia. Parabéns.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Das horas que passam e eu sem saber delas

Estou presa. Não posso fugir, não posso dourar os cadeados, não estico o tamanho desta jaula se lhe contar repetidamente os passos ou se olhar para o tecto a fingir que o que vejo é céu aberto. Fresco. Puro.
Aos poucos fui fazendo crescer estes muros alteando-os desencontrados para obter a firmeza que não me permita escapar, furei uma janela, um quadrado perfeito como uma moldura onde encaixo o rosto e vejo quadros consoante o que passa a direito. Tendências e fases imagino-as. A bel-prazer. O humor dita-as.
Inconscientemente deixei uma frincha, uma réstia de mão espalmada por onde entram as visitas e por onde passo recados, pequenos pedidos de nada, umas pingas de chuva ou o cheiro do pêlo suado de cavalo, a maresia das ostras abertas, o eco do meu nome.
Às vezes revolto-me e tento partir este tubo que me serve de saia e me prende as pernas, amaldiçoo a droga injectada na veia que me secou de sangues substituíndo o liquido que conhecía por um hospedeiro que conversa comigo junto ao ouvido, baixinho, embalo, desfaleço, deixo-me ir, leva-me, quero ir. De outras não ofereço resistência, até enfeito as paredes circulares de grafittis infantis, um malmequer, um enforcado, palavras soltas que acabo por unir com e ou de ou deu.



... Engraçado... Quando faço isso as paredes levantadas desaparecem. Fico com pena de não estar presa.

domingo, 26 de abril de 2009

Rabiscos

Só no final do dia é que o céu se animou de azul claro quase em tom de brincadeira, dos ventos a cabeleira, a roupa desfraldadas, a pele de galinha, os olhos numa fenda protegidos.
Porque é que é Primavera, e Abril e papoilas e chuva fria... Abriu a boca, sentiu a lingua secar-se, as bochechas incharem da ventania, as palavras coladas no céu esvoaçaram para o azul que se adensou e algumas ficaram presas nas arvores tão despenteadas quanto ela.
Já não são minhas. E voltou a atenção para o papel.

sábado, 25 de abril de 2009

Parabéns Nina



São 21. O equivalente a muitas corridas, muitas peripécias, muitos miados e muitos ronrons.



Parabéns Nina.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Agora nós!

Enraizo-me na Árvore. Acho. Sem planos que não o do dia-a-dia, sorvê-lo na quantidade e qualidade que me são permitidas e possíveis na minha capacidade, avivo os que comigo estiveram, os que comigo aqui vieram, os que me visitaram e cuidaram das folhas na minha ausência, os que me gritaram do alto do monte que vinham a caminho, os que aguentaram o meu riso e a minha rabujice, a minha voz, a minha letra, o meu eu. Os meus eus, todos os que me incomodam e abençoo por assim o serem revoltados e (re)nascerem a cada dia que abro as páginas de cadernos que se empilham em lugares impróprios e até mesmo no vapor no espelho que se acomoda pragmático e me empurra para o meu vestido de pele curto para abrigar os homens e as mulheres que existem. Ou sou eu que não sou.

sábado, 4 de abril de 2009

Distinção Abril 2009



Há blogs que pela sua qualidade me merecem destaque.


Seja pelas palavras ou pela imagem, pela constância do nível e empenho do seu autor, pela inovação dos temas, pela simplicidade com que me fazem viajar. Pelo tanto que me dão.

Assim, resolvi publicamente nomeá-los, sendo certo que a regra única é o meu gosto pessoal pelo blog.


Não é um prémio nem um meme.
Não é uma corrente e logo não é transmissível a mais ninguém pelo que só a Árvore das Palavras tem o direito sobre o registo de os indicar e o indicado não o pode oferecer.


Todos os meses, aos primeiros dias, revelarei a minha escolha. Publicarei aqui o selo Distinção Árvore das Palavras com a identificação do meu seleccionado de cada mês e gostaría que o blog distinguido também o exibisse. Mas isso já fica por decisão do visado.


Abril é um excelente mês para distinguir Voando por aí da autoria de Teresa Durães.


Qualidade de escrita, qualidade de fotografias, qualidade no tratamento das emoções fugindo ao caminho fácil do óbvio, do piedoso, do lacrimoso. Ler Teresa Durães é ler sério. O patamar do seu registo destaca-se, aprecia-se e... incomoda. Felizmente.


Surpreende-me, atributo de poucos. Por isso, recomendo, por isso gosto. Muito.

terça-feira, 31 de março de 2009

segunda-feira, 30 de março de 2009

3F

Três efes, é assim que se lê o F. Ou o efe. Uma maneira vagarosa de eu dizer três palavras começadas com efe e que fazem da Árvore a Primavera. E não o contrário. Porque as folhas, as flores e os frutos surgiram todos em simultâneo e não me venham com lógicas e acertos de calendário porque aqui isso não serve de nada.

Digo-vos:

Folhas, Flores e Frutos, tudo junto num jorro.

A encantar-me, a fazer-me sorrir e a acompanhar cada som de palavra, cada calor de abraço, cada cheiro de um beijo que recebi, que dei, que vi nos olhos, na veia do pescoço ou mesmo do que não se disse.

A Árvore está plena, ajoujada de tanto de vós e por isso se dobra numa vénia.



Obrigado

sábado, 21 de março de 2009

Primavera

A Árvore penteia-se de verde.


Um abraço a todos os que têm chegado e acrescentam mais uma folha, um rebento. A copa está larga, frondosa, vaidosa de tanta folhagem, preparada para dias que se pintam de sol.


Haverá fresca sombra, decerto. Obrigado.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Convido-vos

Talvez achem que somos uma e a mesma pessoa. Ou talvez não. Talvez sejamos ambas, embora diferentes (tanto), metades de outros que por aí respiram. Ou que se completam enquanto individuo. Ou se multiplicam em mais um e outro e ainda mais uns quantos. A descobrir.








Aos que quiserem estar presentes. Para vos descobrir.

Em tempo:

Obrigado a todos os que têm vindo. Do coração. Espero encontrar-vos de viva voz.

Beijo

domingo, 8 de março de 2009

Do belo

Descobriu-se-lhe o mundo como se tudo tivesse começado nesse instante e à medida de cada pensamento e gesto novas árvores, outras flores, tantas coisas das quais já sabía o nome e que reiventava com outras formas e funções, afastando os fantasmas do estático e do normativo, concepções desenhadas tão só na vontade de lhes atribuír a beleza pela coisa do belo sem se incomodar com alinhamentos e realidades que fugíam do caminho da felicidade.
Escreveu tudo o que lhe veio à cabeça, endeusou-se, fez-se ícone e até semiótica, afinal o mundo é de quem o escreve e quando se é autor há a escolha, deixa-se o ser homem o ser mulher, o ser cousa de outros, é-se conquistador.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Está difícil

Articular palavras com soalhos e passos com papel, tempo com vontade e compromissos com saudades.
Desacertos.
Afinações a que a mão ainda não conseguiu chegar. Ainda. Breve hão-de-me crescer mais mãos, mais ramos e volto a ser árvore.

terça-feira, 3 de março de 2009

Vitamina C

Contrariedades. Gripe. Contradições. Dente do siso. Contracções. Tempo a menos, coisas a mais. Contracturas. Dores musculares. Contrários. Sem vontade.
Está a passar, aos bocadinhos...
C de contente. Teimosamente.
C de G. Nós outra vez.



(C de Convosco. Ainda bem)

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Regresso à sala de espelhos

Entrou e dirigiu-se ao canto da sala, pousou a pequena toalha, os cd's, a joelheira e o pé elástico, dobrando-se pendente o torso pela cintura com os anéis vertebrais a estenderem-se por etapas, pernas hirtas, pés afastados à largura dos ombros.
Chegou a tempo, chegou adiantada, ainda não há cheiro de gente nem de música nem de dores de cansaço nem se multiplicam as imagens nas gotas de suor dos espelhos, só ela adiantada, só ela a comer o chão medindo o perímetro a passos largos nas nádegas apertadas e nas mãos cravadas na bacia, olhos baixos, o respeito obriga-a a não encarar a figura de cello que mantém ao longo dos corredores que vai desenhando cada vez mais veloz no labirinto das lembranças.
E depois lá: Ela atirada à imagem de negro, voile de saia que mexe depois de estática no combate do rosto, da linha dos braços compridos, do branco da pele do pescoço cavado no V do fato apertado nas costelas, nos mamilos e no esventrado das costas pontilhados de sinais. São marcos, são pelourinhos, são ferros que a queimaram de outras nascenças em que morreu por cada vez que se arrepiou, não são sinais, não são.
O reflexo grita atreve-te e ela abre os braços, as pernas de compasso desafiam a gravidade do instante, piruette, dupla, renversée, a tontura, o enjoo, a imagem, as imagens fragmentadas em muitos eus, muitos ela, ácidos venenosos, mancha de regresso, a imagem engole o figurino e o grito sai para dentro! Bem vinda, como demoraste a voltar.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

AVISO

AVISO À NAVEGAÇÃO:






SE RECEBEREM UM CONVITE PARA CRIAR UM AVATAR EM 3D DA IMVU


EM NOME DA GASOLINA


SAIBAM QUE NÃO FUI EU QUE O ENDERECEI.







ALGUÉM QUE GOSTARÍA DE TER O MEU NICK (OU SER EU?) ACHOU SER ESTA A OPORTUNIDADE IDEAL.







MAS SÓ ISSO, NÃO DÁ PARA MAIS.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Aguarelanja

Os calcanhares íam batendo a ritmo incerto no muro alto, era bom sentir a aragem nos tornozelos e na curva das pernas, os joelhos quentes do Sol que baixava devagar, até os olhos se feríam menos na claridade rosada e dos sons a passarada ensurdecía pelo regresso aos ninhos nas árvores.
Depois, eles os dois.
Sem conversa.
A boca estava ocupada a cravar-se na casca das laranjas e a ponta da lingua a esfuracar no miolo doce e sumarento enchía-lhes a mente sem pensarem noutra coisa. Depois disputaram a lonjura a que conseguíam cuspir as cascas e isso tornou-se o mais importante. Quando já não havía cascas lançaram seixos.
O Sol escondeu-se, pularam para chão firme, meteram as mãos aos bolsos, apalparam o tamanho do sexo pequeno e um deles a fisga, o outro o canivete de cabo de osso.
Ao longe veio um grito de mulher que trazía um nome, a passarada esvoaçou das árvores.
Correram em caminhos opostos.
Ele nunca soube explicar porque pintara o muro a branco-cal nem tão pouco a importância de cortar a aguarela a meio entre pássaros parados no céu e cascas de laranja junto ao limite da folha.





(in Telas, C.G. - Março/2005)

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

La mer (1) Parce que je me sent comme ça

La mer
Qu'on voit danser le long des golfes clairs
A des reflets d'argent
La mer
Des reflets changeants
Sous la pluie


La mer
Au ciel d'été confond
Ses blancs moutons
Avec les anges si purs
La mer
Bergère d'azur
Infinie


Près des étangs
Ces grands roseaux mouillés
Voyez
Ces oiseaux blancs
Et ces maisons rouillées


La mer
Les a bercés
Le long des golfes clairs
Et d'une chanson d'amour
La mer
A bercé mon cœur pour la vie




(1)-Charles Trenet




A embalar aqui pela batuta do Fernando Vasconcelos

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Janela para dentro de mim

Assim estou eu, de olhos rasgados, sem filtros, sem peneira que separe o bom do lixo.
Que venha tudo, que venha mais, eu aguento. Sempre aguentei, porque não agora?!
Dias de memória, os que chegam... Ainda assim, sento-vos à minha mesa, tiro-vos do coração e sento-vos à minha mesa, com tudo, com criticas e gargalhadas, com muito barulho e muita canção. E vocês hão-de voltar cá para dentro satisfeitos comigo, hão-de ser noites boas, com os nossos paladares, os nossos aromas.
Depois não se esqueçam de fechar a porta. Quero-vos todos de volta, cá dentro de mim, preciso-vos para voltar a estar completa.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Número desconhecido, 21H36m

Semaninha diabólica. Se eu acreditasse no chifrudo, que quando me dá posso até ser mais demo do que o pintam. E claro que os dias a girar são alimento de letras, voraz a mão que se empertiga na caimbra do movimento e até faz desenhos onde não deveríam riscar mas o corpo é assim, pouco, pouquissimo e tanto muitíssimo o que juntei de palavras que sufoco se não as choro.
Mas não hoje. Guardarei para amanhã. Há tempo. Há lugar.
Esta noite e em directo empenho-me em arranjar uma tonalidade anil que se assemelhe à da tua voz, ao teu ar soprado no arrasto do cansaço dos olhos inchados e nas mãos presas no redondo do volante que te guia o filme a passar ao contrário sem entenderes onde entras, onde sais, uma corda batida ritmada em que as pernas se enleiam e o chão se aproxima esfolado na distância mais curta entre dois pontos.
Eu digo-te, as rectas não são caminhos curtos pelo menos para ti, para mim, para os risos e para os amigos e para a entrada a pé direito sob as pancadas soadas a compasso do coração e essa barulheira toda que de repente se silenciou, aviso-te, é igual ao ruído do enxame quando se afasta para regressar mais forte.
- Estou... Quem fala?
- Sou eu.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Aos poucos

Aqui há uns tempos disse que havería de contar verdades, revelar verdades que respiram e têm pele própria, independentes no carácter e forma de estar, género, gostares, convicções.


Não me interessa que gostem ou desaprovem. O gesto é meu. O eu de mim é meu. Mas não me procurem por lá porque não me vão achar, fui pequena ferramenta nas mãos de quem se intitulou no direito de gritar eu existo, eu sou.


Apresento-vos o Quarto do Crescente.


Hão-de perguntar por que raio faço eu este convite, esta revelação... Na altura devida compreenderão, nem tudo é entendível como objectivo e concreto, muito menos imediato.


Hoje não escrevo. Deixo esse trabalho para outro de mim que já o fez.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Sobrevivente ao romantismo

Não, não é uma tradução livre do I Will Survive da Gloria Gaynor. Tão pouco uma adaptação d'O Último dos Mohicanos de James F. Cooper.


É o selo que demonstra que a Árvore é uma resistente, uma romântica Árvore que se mantém de pé apesar de ventos e modas.


E quem assim nos acha é a Pin do Blog Pin Gente.






Desconheço regras. Mas também se as soubesse não as cumpriría... Não levem a mal esta pobre Árvore, romântica, é certo! Mais Voilá! Dada ao sabor das transgressões!


Aceitem-no a quem se achar um sobrevivente.


À Pin o nosso afectuoso agradecimento,


um beijo.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Contos Curtos Quase Escuros - Os malefícios do amor

Apaixonara-se por ele, sem se dar conta, uma progressão lenta que acabou num disparo no dia em que descobriu que o incómodo, os suores, as insónias, a boca semi-aberta, as lágrimas e os risos nervosos eram a revelação do seu enamoramento.

De inicio ele era diminuto, nada acrescentava à sua existência nem lhe retirava causa aos problemas, mais um que engordava o número dos que já conhecía, apático na alteração da sua vida e tão pouco lhe achava graça ou quimica que a levasse a perder tempo a anlisá-lo e encaixá-lo nalgum grupo fisico, um homem, banal, se estalasse os dedos não se lembraría mais dele, tería que pedir várias vezes a sua descrição para conseguir moldar a imagem.

Não se deu conta, repita-se, foi um leite que num ápice levantou fervura e entornou-lhe por dentro a serenidade, a respiração controlada, as falas pensadas mas aos poucos ele surgiu um bocadinho ali outro acolá, uma piada elegante, um gesto delicado, um silêncio revelador e encantou-se, passou a dispôr dos seus olhos para o ver melhor e já em lobo nasceu o macho que a arrebatou numa luz azulada de cobalto enquanto lhe puxava os cabelos docemente.

Deu-se. Entregou-se. Permitiu-se todas as palavras, todos os sentires, todo o obsceno privado.

E quando se deu conta estava apaixonada pelo personagem que criara para a sua estória entregue à editora já fora de prazo.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

AI!

Corro.




Corro muito, tanto, talvez ainda vos apanhe aqui... ESPEREM!





(Ainda hoje é segunda e o tempo já me ganhou...)





É que venho carregada, trago um abecedário inteiro às costas mas preciso de espaço para o dispôr, para brincar com ele, para vos mostrar o que tenho aprendido e de cada vez que o faço sou catapultada para outra dimensão e não chego a horas aqui!

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Óleo à espera de ti

Deram alguns passos atrás, vía-se melhor, depois aproximaram o rosto nos cantos, a rugosidade do óleo deixava aperceber a mão do artista, Espatulado? Parece-me. Queres sentar? Sentemo-nos. Ombro a ombro, o olhar a fazer o quadrado da moldura, Que achas que ele estava a sentir quando pintou isto? Não sei, mas tristeza decerto... Porquê? Repara nas cores, nos tons fechados muito próximo da terra, talvez uma saudade, saudade imensa acho, não se vê uma erva, uma flor, não há árvores, É um descampado, é normal não ter nada, Com um nú? Significa o despojamento! Pode ser só dramatismo... Também, há lá coisa mais dramática que a solidão? A falta de amor, de amar... Mas isso ele teve, repara nos braços traçados... É como se guardasse dentro do peito o que se foi. Ou o que não deixa entrar! Fechado ao amor, à vida!
Ele pousou a mão sobre a dela, ela olhou-o. Por alguns segundos deixaram o tempo suspenso no que poderíam ter dito, na confissão do mesmo. Mas levantaram-se e seguiram pelos corredores do Museu sem se deterem pela análise de mais quadro algum. No banco restou uma pouca de terra.



(in Telas, C.G. - Janeiro/2007)

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Distinção Fevereiro 2009



Há blogs que pela sua qualidade me merecem destaque.

Seja pelas palavras ou pela imagem, pela constância do nível e empenho do seu autor, pela inovação dos temas, pela simplicidade com que me fazem viajar. Pelo tanto que me dão.

Assim, resolvi publicamente nomeá-los, sendo certo que a regra única é o meu gosto pessoal pelo blog.

Não é um prémio nem um meme.

Não é uma corrente e logo não é transmissível a mais ninguém pelo que só a Árvore das Palavras tem o direito sobre o registo de os indicar e o indicado não o pode oferecer.
Todos os meses, aos primeiros dias, revelarei a minha escolha. Publicarei aqui o selo Distinção Árvore das Palavras com a identificação do meu seleccionado de cada mês e gostaría que o blog distinguido também o exibisse. Mas isso já fica por decisão do visado.


Ao Triliti Star cabe a distinção de Fevereiro.


Pelo Quarto de Dormir onde se contaram tantas histórias de encantar, pela Alcova dos Pesadelos onde o sobressalto da surpresa faz disparar a emoção, pelas imagens, pelos micro-textos que embaraçam o comentário.


Para quem gosta de experimentar o fio, o clandestino, o outro lado da rua. Eu vou.