Desapareço pelas entranhas do barco ferrugento. Não me tritura, engole-me de uma vezada e recolhe a lingua, ruminando pacificamente no amansar das águas feitas mãos-concha a ilusão que vem da minha cabeça vadia e desassossegada incapaz de se sentar entre os meus ombros.
Deixo-a, permaneço imóvel no corpo abastecendo-me o despensário de linhas tomadas à pressa no caderno apoiado sobre o joelho, já ali o outro lado, já ali o nascer do dia, meia bola de fogo que me alumia mais que estas luzes sombreadas pelo vizinho que teima em entender o que corro no bico da caneta e se desespera torto e contrafeito pelo azul mancha que grita pela minha cabeça.
Recupero-me ao bater do casco, o cacilheiro vomita gerações, sons e cheiros sem pudor do seu arroto rangente de corda e aço. A ferrugem descascada ainda me chama, deixei estórias para trás...
(in Crónicas do Tejo, C.G.- 08/10/2008)
24 comentários:
Querida Gasolina
...e o nosso Tejo que é tão fagueiro...
O teu caderninho de apontamentos, serão quantas vezes memórias? é um caderno de luz.
Escreves tão bem o Tejo!!!!!
Beijinhos.
Victor,
O meu caderno é um bazar: há palavras únicas e soltas. Poemas. Histórias. Desenhos de olhos e de rostos, alguns de quem nunca vi. Focinhos de gatos. Sapatilhas. Frases com muitos pontos de interrogação. Textos em inglês, francês e espanhol. Apontamentos técnicos(sobre coisas que aqui não posso falar). Lista de víveres.
E depois o Tejo. O Tejo.
Um beijo com muito carinho.
Gas,
o Tejo aquele que eu gosto. E que principalmente gosto como falas dele e com ele.
Jito,
Sony
Bendito Tejo :-)
:)
chronicas.
gosto da palavra
adoro acontecimentos
Na concha das tuas mãos escorre água e as palavras ainda com asas molhadas… penas que esvoaçam sobre o Tejo …
Bj das nuvens
a ferrugem como marca do tempo
Boa Tarde
Tem uma maneira muito peculiar de escrita que cativa á leitura e a imaginação, gosto muito.
Amizade
LUIS 14
belas memórias...de um rio que fala
beijos
se a tua árvore desse frutos, já nao é mau de todo. agora queres q ela produza gasolina.
isso noa é uma arvore é uma gasolineira
...a minha cabeça vadia e desassossegada incapaz de se sentar entre os meus ombros...
assim ando eu também. mais coisa menos coisa.
beijo
Como te inspira esse tejo .. mil estórias ainda terás para contar.
Um beijo
BF
Estas crónicas são preciosas. Com poucas palavras pintas telas colossais. O Reno tem inveja do Tejo...
marisa
P.S. O Libertango também me "bateu" cá dentro. Fantástico!
Sony,
É um amante, isso sim.
Resgata-me tristezas mas atira-me para o outro lado...
Também... quem disse que eu gostava de coisas fáceis?
Um beijo Formiga Rabina
Observatory,
Somos dois então.
A ver se não te desiludo com as minhas.
F@
Palavras com asas molhadas?
Isso é simplesmente belo... muito Obrigado!
Beijo Menina das Nuvens
Teresa,
Eu gosto da cor da ferrugem, da textura.
E depois o seu simbolismo é para mim não decadência mas vivência.
Luís XIV,
Que belo elogio!
Muito Obrigado Luís!
Vossa Senhoria é um galanteador a minhas palavras!
(Como continuas a tratar-me por você lá terei de vos corresponde...)
Ficai bem, Luís XIV
Carla,
Este Rio fala, chora e é vaidoso.
Mas merece-me tanto, tanto.
Um beijo para ti
Dr. Alban,
Tens de voltar à escola.
Ou será que compraste o curso?
Se começas uma frase no Condicional terás de a terminar na concordância.
E tens de pôr a imaginação a funcionar: essa piada está gasta.
Tri,
Se foi a cabeça perdida que te impeliu ao regresso, pois que seja que me deixa feliz a mim.
Um beijo grande
Papoila,
Se houver tempo e vontade, muitas mais crónicas hão-de desaguar.
Há anos que as escrevo.
Um beijo imenso para ti Papoila dos Girassóis
Marisa,
O Reno não "pode" ter inveja.
Tem-te a ti, pézinhos de lã.
E as crónicas servem para partilhar este rio tão belo, logo também teu.
Um beijo Querida Marisa, com um abraço forte
Caderno liquído de sensações vogando
sob risco das palavras.
Lindo.
Bj.
Mateso,
Imensos cadernos. Tantas viagens de ida e regresso.
Obrigado Minha Querida Mateso, beijo
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