Porque se tratava de um jantar a sopa foi o primeiro prato a ser servido.
José Maria apurou a vista ao filete dourado da beirada do serviço branco que aguardava o creme de espargos.
Algum silêncio quase solene perante os aromas até Lucia dar um esticão no guardanapo e rodear o decote com o mesmo. Fernando sobressaltou-se pelo som de chicote e bateu com a mão no copo de água derramando-o. A anfitriã pousou-lhe a mão sobre a sua, trémula, sossegando-o mas ele, ansioso pelos demais presentes, levantou-se de um salto e desapareceu pelo corredor, de pasta preta entalada no sovaco.
- Lamentável... mas caricato!
- Meu caro Franz, estranharía que você não dissesse qualquer coisa...
- E essa sua observação?! É suposto querer dizer o quê?
- Opinar, opinar! Toda a gente sabe como você gosta de opinar!
- Todos gostamos, aliás -acrescentou David- cabeças livres têm esse fruto sempre pronto a ser espremido!
- Que fruto? De que falam? Esta sopa está óptima! Mas que fruta? Não percebo nada desta conversa! E o Fernando? Que se passa? Mal da barriga? Diarréia? Amarelo como está...
- Não, não é nada disso! Apenas, sabem... ele é timido, e tu Lucia assustaste-o...
- Eu???
- Carissima Lucia não fez nada. O homenzinho é mesmo esquisto, como todos sabem...
- Cuidai quem fala... A tentar impressionar? ora, ora!
- José Maria, é a segunda vez que você me aferroa!
- Meus senhores! Por favor! As senhoras! Não é hora para avaliarmos sensibilidades.
A dona da casa sorriu a David agradecida por atalhar o que podería ser o início de uma violenta discussão.
O prato de sopa de Fernando arrefeceu até formar uma capa, o som de metal dos talheres repousou as vozes e o estomago agora preparado para se irrigar acalmou os diferendos.
Bebeu-se uns goles de clarete, Franz elevou o copo e elogiou o verde que escolhera para si enquanto Lucia não lhe deu tempo para terminar a adjectivação e de uma assentada virou o conteúdo do seu. José Maria arqueou o sobrolho, a boca num sorriso branco e por baixo da mesa roçou o tecido das suas calças no joelho dela. Ela olhou-o descarada e lambeu os lábios.
David tossicou, limpou gentil a boca e voltou a pousar o guardanapo sobre o colo.
Foi quando Fernando entrou, muito pálido, a fungar. Sentou-se. Puxou da garrafa de vinho tinto e serviu-se até este transbordar e manchar a toalha branca. Levantou o copo, o Borgonha a pingar-lhe a mão, o punho da camisa. Bebeu consolado. Empurrou o creme de espargos intocado para longe de si.
continua
14 comentários:
Há situações narradas em livros que nos levam a desejar vivê-las também, a "estar lá", entrar pelas páginas adentro...aqui acontece-me o mesmo. Gostava de ser comensal neste jantar. Não me importava nada de estar sentada ao lado do Fernando...
um beijo cheio de curiosidade
marisa
Marisa,
Quem disse que não estás presente?
Os que conseguem transportar-se para esta mesa são tão convidados quantos os que manejam o talher.
Deixa-te ficar.
Vem aí o prato de peixe.
Um beijo
Pois, e eu sentava-me ao lado da Marisa, com um blocozinho de apontamentos para "beber" tudo... um beijo para vocês as duas, mulheres adoráveis...
(curioso)
Se puder voltar ao meu blog, verá que fiz algumas modificações na pontuação que você elogiou.
Espero que goste.
Laura,
Tu és mulher de fixar com os olhos e fotografar as cenas para dentro de ti, não precisarías de bloco algum.
Senta-te então próximo da Marisa. Estou certa que de quando em vez vai acontecer alguns toques de sapatos ou até mesmo um beliscão para não perderem pitada...
É um beijo e é um abraço.
Empirico,
Posso sim.
Vamos lá ver essa surpresa!
(Adoro surpresas!)
É a primeira vez que venho ao seu blog. Vou esperar pelo final do texto e depois farei o meu comentário
UI GAS!
UMA CENA "SOPINAMENTE" DESCRITA!
THE PLOT THICKENS... - O ENREDO ADENSA-SE...
CONTINUO NA MINHA QUANTO A ALGUNS DOS COMENSAIS... O JOSÉ MARIA, RECORDANDO AS CEIAS EM TORMES... O FERNANDO COM A ETERNA PASTA DE MANGA-DE-ALPACA...
A LÚCIA É QUE ME ESTRAGA O "ESQUEMA"... BEM, PELO MENOS JÁ VI QUE A IRMÃ LÚCIA NÃO É ;)...
BEM, TU, QUE DÁS O JANTARINHO É QUE SABERÁS AO CERTO QUEM CONVIDASTE! EHEHEH...
CADA PORMENOR QUE DESCREVES DÁ UM SABOR ESPECIAL A CADA COLHERADA DE SOPINHA!
BEJO APÓS ALIMPAR AS BEÇAS!
bem...
Uma coquetel de vinhos:clarete,verde e borgonha.O sabor dividido pelo travo deBaco. Os sentidos ou melhor sentimentos vestem-se de acordo.
Brilhante a escalpelização das atitudes peranteo s diferentes aromas e3 sabores vinícolas.
Bj.
JC
Bem vindo.
Aguardarei eu também pelo seu comentário.
Espero não desapontar...
ASPÁSIA,
(IHIHIHI)
(ISTO É MESMO UM RISO DE BRUXA!)
A MENINA NÃO ESTÁ À MESA?!
SE NÃO ESTÁ DEVERÍA ESTAR!
E AGUARDE: VEM AÍ O PRATO DE PEIXE!
NÃO REVELO O PITÉU NÃO VÁ A MENINA DESGOSTAR E FAZER CARA FEIA...
TOME UM GOLE ENQUANTO ESPERA.
E ACEITE UM BEIJO MEU, JARDINEIRA.
Santiago,
Fica.
Se não for pela comida, pelo menos pela conversa.
E prometo que o doce é especial.
Um beijo.
Mateso,
Sempre com um olho clinico e elegantissima no desfiar da apreciação.
Um beijo Querida Azul.
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