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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Contos Curtos quase Escuros - Azul Esmeralda

Desembrulhou o papel de seda negro e perante o seu olhar deslumbrado desvendou-se o casaco de cachemira, macio, fofo, o azul esmeralda a gritar pelo toque da mão. Ela não foi capaz de proferir um som que fosse, apenas lhe saltou para o pescoço, a perna alta e fina dobrou-se num tique elegante de alegria e agradecimento. Prendeu-lhe os lábios nos seus, era este não era, inquiriu ele, era sim meu querido, tanto que quería este casaco e tu ofereceste-mo, nunca o esquecerei e de cada vez que o vestir será como se tu me abraçasses!


Desembrulhou-lhe a noticia de forma negra e fria, directa no desamor e no encantamento por um outro, novo, azul e mágico que a levava ao céu. Então e as juras, as promessas, que queres que te diga, o coração não é propriedade, devolvo-te tudo o que me deste, não o quero, fi-lo por amor a ti. Ele partiu. Ela não encontrou significado maior nos presentes que havía recebido e distribuiu-os pelas amigas, longe da vista longe do coração.


A estação de metro estava apinhada, ele foi rompendo por entre a multidão conforme estes se afastavam numa massa cinzenta e uniforme e de repente aquela luz fantástica como um clarão que emanava de um casaco azul esmeralda. Aproximou-se, muita gente, mas dava para vê-la a rir, um outro também, cabeças juntas num segredo, num beijo, dois beijos. Não aguentou a dor, empurrou à bruta, deu cotoveladas, urrou e num ápice chegou junto dela e de braços esticados empurrou-a, ouvindo o chiar dos freios eléctricos a chegarem à plataforma.


Não teve tempo de desembrulhar o gesto e parar o tempo, quando ela na queda rodou sobre si não reconheceu a mulher, longe do coração longe da vista.

(in Contos Curtos Quase Escuros, C.G. -26-27/02/2008)

22 comentários:

Calimera disse...

Olá Chiguei!!!!!
Desculpa a minha ausência de palavras.
Beijo Bué de grande

Calimera disse...

ahhhh
e como não podia deixar de ser depois voltarei com mais tempo
+ 1 beijo

poetaeusou . . . disse...

*
negro embrulho,
de crueldade azul,
sedenta . . . de seda . . .
,
Conchinhas
,
*

Eunice Rosado disse...

Intenso! Muito bem escrito, adoro o ritmo.

ASPÁSIA disse...

UI ! SERÁ QUE PAGOU A JUSTA PELA "PECADORA" OU FOI MESMO CONSUMADA UMA MALFADADA VINGANÇA?

ESTE CONTO ESTÁ AZUL MUITO ESCURO, NADA ESMERALDA... ALIÁS JULGO QUE SERIA "AZUL TURQUESA" POIS A ESMERALDA É VERDE (JULGO EU)

BEIJOKA PÁLIDA...

Paulo disse...

Estas coisas da alma e dos sentimentos, por vezes, causam desassossegos e/ou fazem-nos calcorrear os «caminhos» libidianos...
Paulo

Eme disse...

De ranger os dentes!

Bisou. Le nôtre,bien sur..

marisa disse...

macabro (o papel do casaco...) mas muito bom! gosto imenso dos teus contos curtos. os acasos são fabulosos. se eu fosse realizador, pedia-te para escreveres o guião do meu filme, infelizmente não sou!

um beijo

marisa

Gasolina disse...

Calimera,

Que saudades, Mulher!

Fico feliz de te saber por aqui.
Estás perdoada, volta sempre e sentemo-nos à sombra da árvore a pôr a conversa em dia.

Beijos muitos!

Gasolina disse...

Calimera,

E como não podía deixar de ser (não te esqueceste!) cá estarei à tua espera.

Um beijo a mais, junta aos outros.

Gasolina disse...

POeta Eu Sou,

A crueldade chega de várias formas, provocada por vários motivos.
A morte é o seu culminar.

BEI/de MARÉ

Gasolina disse...

Domino,

Olá!

Obrigado por trazeres o teu coração até à Árvore.

Beijos

e do Gaspar também
Auf!OUf!

Mateso disse...

Os tons de azul também vestem o engano.
Lindo. Parabéns!
Beijo

Gasolina disse...

ASPÁSIA,

AHAHAHA!

NADA TE ESCAPA JARDINEIRA!

O TRUQUE É ESSE MESMO: A TROCA DO VERDE ESMERALDA PELO AZUL ESMERALDA!
ASSIM COMO ELE QUE ACABOU POR EMPURRAR A MULHER ERRADA. APENAS A TOMOU PELO CASACO!
(LONGE DO CORAÇÃO LONGE DA VISTA)

E EU AVISO: CONTOS CURTOS (QUASE) ESCUROS...

BEIJOS AMIGA ASPÁSIA!

Gasolina disse...

Paulo sempre,

Com toda a certeza.
Não somos nós um labirinto onde a razão muitas das vezes se perde?
E a vingança o acto interior que primeiramente mata o seu mentor?

Obrigado pelo teu regresso.

Gasolina disse...

M,

Que grande elogio!
Mas não mereço tanto.

Bisou, je dirait, Le Bisou.
Et bien sûr, le notre ma Chére, le nôtre.

Gasolina disse...

Marisa,

Infelizmente este conto é baseado em factos reais e reporto-me à cena (já que falaste de filmes)de alguém empurrar outrém para a linha electrificada do Metro de Lisboa.
Do resto só fantasia minha.

Mas fico bem feliz de gostares e se algum dia te aventurares na 7ª arte conta comigo para o argumento.

Beijinhos

Gasolina disse...

Mateso,

Aqui sim, Mateso.
Enganaram o coração e depois a vista. E por fim alma na vingança sórdida.

Beijinhos

£ou¢o Ðe £Î§ßoa disse...

Não sei o porquê, mas apetece-me dizer que o amor encontra-se muitas vezes no desengano.

(já tinha estado inumeras vezes neste "instante" e só hoje consegui soltar umas palavras. Acho a foto lindíssima, custa-me desprender o olhar)

Gasolina disse...

Louco de Lis,

Não sei se assim será.
Cada vez mais encontro que o amor não tem definição.
E no entanto, isso apraz-me.

Quanto à foto, muito obrigado. É normal que gostes dela, tu que tanto aprecias máscaras e pinturas.

Confesso que a esta fiquei rendida, talvez pelo seu olhar aterrorizado.

papagueno disse...

Bolas! bem cruel esta história.
bjks

Gasolina disse...

Papagueno,

Muito.
Mas também próxima da realidade.

Beijinhos