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terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Contos Curtos Quase Escuros-A Estrada

Unidos nas mãos até aos cotovelos, testa apoiada na testa, nariz roçando o esquimó, o hálito perto a entrar na boca do outro, só sorriso.

O café e o chocolate tinham sido quentes, résteas desoladas no fundo das chávenas que espreitavam o melaço dos namorados, palavras pinguças de tanto se quererem nas promessas eternas.

Lá fora fim de tarde, quase escuro, quase chuva.

O empregado pigarreou a enxotar os dois únicos clientes, cansado de tanto cuspo a lustrar o tampo das mesas, os pés numa só fadiga arrastados em trambolhos e joanetes, gorjeta magra e destes, o seu calo dizía-lhe que nenhuma iría ver.

Atreveu-se, bateu com os nós dos dedos a despertar o casal, vamos já, e beijavam-se, atrevidos na lingua exposta e no molhado até ao queixo, quero fechar!

Libertaram-se, ela encolheu as mãos entre as pernas, corada e a limpar o rosto ao ombro da camisola, ele meteu a mão ao bolso, puxou da nota engelhada e sentiu que não se devería levantar de imediato. Recostou-se, tentando manter uma distância que o acalmasse.

Vieram as moedas de mau modo, passaram os braços pelas costas um do outro, mochilas de banda e saíram.

Ficaram no passeio a roçar vontades, altos por baixo das camisolas que se movíam lentos mas habilidosos, mais promessas, pedidos, beijos, beijos, até já, beijos, tenho de ir, beijos, espera, e mais um longo, as cabeças rodando no jeito do nariz desempatar aquele caminho até à boca.

Vou agora, vai, liga logo que chegues e afastam-se, ainda na ponta dos dedos o elo mágico da fusão.

Ela atravessa em passo rápido e curto a estrada mas a meio ouve o pedido liga-me! e num ímpeto apaixonado corre para os braços que a clamam.

O carro ainda travou mas a pancada ouviu-se seca.


(in Contos Curtos Quase Escuros, C.G. - 02/01/2008)

12 comentários:

LOBO MAU disse...

Intenso, Brutal, Lindo!
Continua...
Beijinhos

poetaeusou . . . disse...

*
curtos e negros . . .
,
marés coloridas,
deixo
,
*

Phantom of the Opera disse...

Esse final perturba-me...
E "Tu" perturbas-me!

Gosto de ti

:)

Beijo

Finding Essex disse...

E quando a paixão toma conta dos dedos no gosto pelas palavras... E se...?


Beijo de um infinitamente fantastique 2008!!

Gasolina disse...

ET,

Pois que és mesmo tu?

Ah! que feliz estou!
Bom ano!

E a nossa ginjinha?

Beijinhos, saudades a montes!

Gasolina disse...

PoetaEuSou,

Colorir a imaginação na negrura do relato.

BEI/De MARÉ

Gasolina disse...

Lu@r,

Fantástico!
É mesmo isso que pretendo!
Ah! Muito Obrigado! Mesmo!

Beijos para ti!

PS.: EU? Perturbo-te? :~D

Gasolina disse...

KI,

Nada melhor que o toque nas palavras, seja na ponta dos dedos seja de mão cheia a arrebanhar.

Je te désire aussi, ma chére, tout le bonheur pour ton 2008!

AC disse...

Perdoa-me a presunção, mas neste texto encontro a Simbiose do Dias na Gasolina, o teu narrar na forma dos meus twist, não socos mas pontapés no estomago ditados pela mestria da tua pena.

Como me "encontro" não te aplaudo porque jamais este seu admirador merecerá qualquer referencia ao mesmo degrau de excelencia em que voce respira.

Beijos posso deixar, por essa electricidade fora, que te encontrem os dedos...

ASPÁSIA disse...

GRANDE RIQUEZA DE PORMENORES, COMO NA GRANDE MAIORIA DOS TEUS TEXTOS, FAZEM-NOS VER "OS TEUS FILMES"...
E NEM TODOS TÊM FINAL FELIZ, É VERDADE... NOMEADAMENTE OS FILMES REAIS!

BEIJINHOS TRISTONHOS :[

Gasolina disse...

Dias,

Que vaidosa estou de te encontrares em mim, nas minhas palavras.

Pois que esses teus beijos, electricidade fora, tão bem sabem o caminho até mim.

Gasolina disse...

ASPÁSIA,

NÃO FIQUES TRISTINHA, AMIGA JARDINEIRA!!!

É O LADO OCULTO QUE EM MIM SE REVELA... PREPARA-TE QUE VEM MAIS POR AÍ...

BEIJOS PARA TI!